DEMANDA DAS RUNAS (tradução do RuneQuest), foi recolhido
Nos idos de 2014 eu traduzi o System Reference Document do RuneQuest publicado em 2006 pela Mongoose Publishing. Cheguei a divulgar e postá-lo aqui no blog. No entanto, esses dias eu descobri que o documento era ilegal. Mas não é minha culpa. A culpa é da Mongoose! Vou explicar. Senta que lá vem história…
Retrospectiva Ligeira
Essa é a melhor restrospectiva histórica dos Sistemas BRP que você vai ler: Basic Roleplaying, RuneQuest, Mythras, Legend, OpenQuest e GORE. Aqui do blog, claro! Vou resumir bem rápido:
1978 – Chaosium publica a 1ª edição do RuneQuest (RQ1).
1979 – Chaosium publica RQ2.
1984 – Chaosium desenvolveu as regras do RQ3 e, para impulsionar as vendas, vendeu os os direitos da marca RuneQuest para a Avalon Hill, que passa a publicar o produto. A Chaosium manteve os direitos sobre as regras.
1998 – Hasbro compra a Avalon Hill.
2003 – Issaries (de Greg Stafford) compra os direitos da marca RuneQuest da Hasbro.
2006 – Issaries faz acordo com a Mongoose Publishing para publicar uma nova edição do RuneQuest, usando a marca que pertence à Issaries, mas com regras totalmente reescritas, porque os direitos das regras pertenciam à Chaosium. Foi possível graças a uma brecha legal. Em Agosto de 2006 a Mongoose publica o RuneQuest que ficou conhecido como MRQ-I. A Mongoose liberou as regras do MRQ-I sob a OGL.
2010 – Mongoose revisa o MRQ-I e publica o RuneQuest II (MRQ-II).
2011 – Mongoose perde os direitos da licença RuneQuest, e renomeia as regras do MRQ-II para Legend, liberando-as sob a OGL.
2012 – Design Mechanism publica RuneQuest 6ª edição (RQ6) sob licença da Issaries.
2013 – Issaries vende os direitos de RuneQuest e Glorantha para Moon Design.
2015 – Chaosium vai mal das pernas e é comprada pela Moon Design, que cede os direitos de RuneQuest para Chaosium. Com isso a marca e os direitos sobre as regras do jogo estavam consolidadas de volta nas mãos da Chaosium.
2016 – Design Mechanism perde a licença de RuneQuest e muda o nome de seu jogo para Mythras. Esse faz muito sucesso, o Dados Místicos fala muito dele.
2018 – Chaosium publica RuneQuest: Roleplaying in Glorantha (eles chamam de 4ª edição, mas já é a 7ª na verdade).
Que saga!
O conteúdo OGL
A Mongoose usou aquela brecha legal para reescrever as regras do RuneQuest, já que eles detinham a marca mas não o texto das regras. A brecha diz que a lei só protege a expressão literária das regras (o texto), não as regras em si. Então se eles escrevessem as regras com outras palavras… Até aí ok. Só que os direitos de propriedade sobre esse novo RuneQuest, o MRQ-I de 2006, não pertenciam à Mongoose, e sim à Issaries! A Mongoose era só uma licenciada.
Esse é o começo da confusão. Porque a OGL exige que você seja PROPRIETÁRIO daquilo que está distribuindo sob a OGL. Porque uma das características da OGL é conceder direito PERPÉTUO a quem fizer uso de Conteúdo Aberto. Se a Mongoose não tem os direitos, se ela perder a licença, como ficam os licenciados? Não ficam, perdem tudo, tá aí o problema. Eles não tinham direito de liberar pela OGL. A SRD deles era ILEGAL.
Demanda das Runas – Minha Tradução
Eram 3 SRDs na verdade: Core Rules, Companion e Monsters. Eu acho que comecei a traduzir em 2010, terminei em 2014 (o Core Rules), e traduzi mais 2 capítulos e uma parte de um terceiro do Companion em 2015. Ainda em 2010 eu pedi autorização pra Mongoose para usar a marca RuneQuest na tradução, no que eles consentiram. Só que demorei e eles perderam a licença. Até aí tudo bem, pensei. A OGL é perpétua, de boa, vou continuar… Veio MRQ-II e eu não tinha terminado, mas ok, MRQ-II não era OGL, continuei traduzindo. Terminei e não me toquei da ilegalidade da Mongoose e, por extensão, da minha própria.
Eu descobri isso discutindo no Fórum BRP Central e lendo o FAQ da Chaosium. Até bati boca com um infeliz lá.
P: Posso confiar no Mongoose RQ SRD para publicar material?
R: Não. A licença da Mongoose para RuneQuest foi encerrada em abril de 2011. Nesse ponto, a Mongoose perdeu todos os direitos de continuar usando a marca RuneQuest, ou de criar e publicar material derivado do material escrito anterior, ou de emitir quaisquer sublicenças com base nesse acordo. Como a Mongoose não tem mais nenhum direito sobre o RuneQuest, ela não tem capacidade de emitir uma licença de terceiros para esse material (que é tudo o que um OGL é).
Divulguei o Demanda das Runas aqui no blog, as pessoas curtiram até, mas já apaguei o post e o link de download. Disponibilizei também no Dungeonist, várias pessoas baixaram. Já deletei ele de lá também.
Felizmente ninguém no Brasil fez uso comercial daquele arquivo. Mas na gringa fizeram: saiu GORE (2007), OpenQuest (1ª ed. 2009) e muitos outros. E como eles lidaram com isso? Felizmente em 2011 a Mongoose liberou o Legend pela OGL. O Legend é totalmente lícito, pois a Mongoose possui todos os direitos envolvidos (marca e regras). Então para essas empresas foi uma questão de mudar um detalhe na seção 15 da OGL, que trata do “Copyright Notice” (aviso de direitos autorais). Bastou acrescentar na seção 15 o copyright da SRD do Legend. Sem problemas, sem traumas.
Se você chegou a fazer uso da minha tradução do MRQ-I, intitulada Demanda das Runas, eu recomendo alterar a referência pra SRD do Legend, só isso.
E o Futuro? Demanda das Runas II
Estou traduzindo a SRD do Legend, é só aguardar moçada! Sem previsões ok?