GURPS 5ª edição? Um histórico de GURPS
Logo após o anúncio da Wizards of the Coast sobre D&D 5ª ed., que saiu até no New York Times, sempre tem quem se pergunte sobre novas edições em outros sistemas. Para responder a essa pergunta, o blog dos Filhos da Calculadora (que não existe mais, infelizmente) encontraram a resposta fuçando no Fórum da SJ Games.
Uma notícia Tranquilizadora…
O que nos importa é a resposta oficial de ninguém menos que Sean “Dr. Kromm” Punch, o editor da linha GURPS da SJ Games, e um dos escritores mais prolíficos do sistema:
INGLÊS:
An unequivocal “no.” We haven’t even thought about a “Fourth Edition Revised,” much less a Fifth Edition. If people are still playing pen-and-paper RPGs in 2017, ask again then. 😉
TRADUZINDO…
Um inequívoco “não“. Nós nem sequer pensamos em uma “Quarta Edição Revisada”, muito menos numa Quinta Edição. Se as pessoas ainda estiverem jogando RPGs de mesa em 2017, então me pergunte de novo. 😉
Pois é, a SJ Games, para nossa felicidade, sempre foi zelosa do GURPS. Eles não fazem besteira com o sistema. GURPS 4ª ed. é uma evolução, ou melhor, um salto evolutivo, mas nunca uma ruptura. Existem várias versões do sistema do D&D incompatíveis, coisa que em GURPS não existe. Eu ainda tenho GURPS Conan da 3ª ed., e funciona sem adaptação.
Histórico das Edições Americanas
O histórico das edições de GURPS é bastante rápido até a terceira e mais conhecida edição americana. As três primeiras edições foram lançadas com intervalo de um ano entre elas, sendo que a terceira reinou por 15 anos até sair a quarta. Houve uma edição revisada da terceira edição, mas não trouxe mudanças no sistema.
- 1986 – 1ª Edição (3 de Julho)
- 1987 – 2ª Edição
- 1988 – 3ª Edição (em Setembro)
- 1994 – 3ª Edição Revisada
- 2004 – 4ª Edição (em Agosto)
1ª e 2ª Edições
Não há diferenças nestas edições. A segunda edição é só uma grande errata da primeira, como explica Aramis no site StackExchange. A imagem à direita é da capa das caixas da primeira e segunda edições.
Visualmente essas edições compartilhavam o mesmo aspecto: eram vendidas em caixa, com a mesma capa e possuíam dois livretos (booklets) de regras, chamados Characters (Personagens) e Adventuring (Aventurando), uma aventura solo (All in a night’s work), uma aventura para mestrar (Caravan to Ein Arris), e um livreto Charts and Tables (Tabelas e Fichas), sendo que na primeira edição a capa dos livretos era mole, e na segunda eram cartonados e azuis, com layout diferente. Apesar disso possuíam quase o mesmo conteúdo. Na prática, a segunda edição era a primeira revisada acrescida de novas vantagens e desvantagens e numerosas clarificações de regras. Mas as regras eram as mesmas. A caixa vinha com a inscrição Basic Set (Módulo Básico) e ainda se fazia acompanhar de miniaturas de papelão, mapas de combate e dados.
As regras permitiam criar qualquer tipo de personagem… Desde que ele vivesse num mundo medieval. Pois o sistema tinha sido planejado para ser modular. Um módulo Fantasy adicionava magia, um Space adicionava perícias e equipamento para viagens espaciais, etc. Ou seja, parcialmente universal, pois precisava de um módulo para cada gênero.
Porém, o essencial de GURPS já estava lá: quatro atributos básicos, defesas passivas, ativas, perícias, mecânica das vantagens e desvantagens, e o sistema de combate como nós conhecemos.
Tecnicamente não era para haver uma segunda edição, e sim uma “segunda impressão”, como costuma fazer hoje em dia a SJ Games. Sempre que eles encontram um número considerável de erros (gramaticais, digitação, impressão, referências de páginas etc) eles publicam uma nova impressão do livro com os erros detectados na errata já corrigidos.
3ª Edição e 3ª Edição Revisada
Essa edição trouxe algumas alterações em relação à 1ª e 2ª edições, porém foram pouco significativas em termos de regras pois, como dito antes, o sistema em si estava pronto já na primeira edição. Isto graças a anos de desenvolvimento, que começou em 1980 com o jogo The Fantasy Trip que já usava a mecânica e ideias básicas do sistema. Basicamente as regras da terceira edição apenas adicionaram mais material e opções aos jogadores.
Em relação às edições anteriores a 3ª quebrou a curva de aprendizado das perícias, aparentemente diferente para cada tipo de cenário, passando agora a ser mais universal.
Essa edição também consolidou num único livro os módulos de expansão da 1ª e 2ª edições, deixando de ser um sistema genérico-modular para se tornar verdadeiramente genérico e universal. Embora os livros suplementos continuassem existindo, o essencial estava todo no Módulo Básico.
Uma mudança significativa foi no formato de publicação: a caixa e os quatro livretos foram substituídos por um único grande manual, o Módulo Básico.
A 3ª ed.rev. NÃO está para GURPS 3ª ed. como está D&D 3.5 para D&D 3.0. A edição revisada não alterou nada. Ela foi apenas uma consolidação de algumas perícias, vantagens e desvantagens presentes em outros suplementos esparsos. As regras eram todas as mesmas, nada mudou. Tanto é verdade que aproveitaram a maior parte das placas de impressão usadas na 3ª ed., deixando apenas o folio maior (quantidade de folhas). O que mudou mesmo foi o seguinte: removeram a aventura solo “Uma Noite de trabalho” e a aventura para mestrar “Caravana para Ein Arris” e colocaram o famoso “Apêndice” no lugar. A edição brasileira manteve essas aventuras.
Este conjunto de regras ganhou o Origins Nomenee de Melhores Regras de RPG de 1986 e o Origins Awards de Melhores Regras de RPG de 1988, entrando para o Origins Hall of Fame em 2000.
4ª Edição
Essa deu o que falar. Inúmeros blogs já comentaram as mudanças. Desde o planejamento da nova edição a SJ Games consultou seus clientes através de um questionário no site da editora, que ficou online por um longo tempo.
A quarta edição trouxe mudanças substanciais na progressão dos atributos e na forma como se calcula os pontos de vida e de fadiga, simplificou também a tabela de custos das perícias deixando-as mais universais e fáceis de manipular, e as vantagens e desvantagens trouxeram a grande mudança, ao adotar ampliações e limitações que permitem na prática criar um sem número de características novas. Além disso ela consolidou uma série de regras, perícias, vantagens e desvantagens presentes nos GURPS Compendium I e Compendium II e, eu diria, também do GURPS Supers da terceira edição.
Agora o Módulo Básico cresceu e foi dividido em dois: GURPS Personagens e GURPS Campanhas.
A quarta inovou na capa, embora lembre a capa da 1ª e 2ª edições. A novidade é que houve um concurso para a nova capa, e quem ganhou foi o brasileiro Victor R. Fernandes. Ele aparece como projetista da capa, pois seu desenho inicial foi refeito por outro artista.
Esta edição ganhou o prêmio Origins Nominee de Melhor Role-Playing Game de 2004.
5ª Edição
Não antes de 2020 se considerarmos o intervalo entre a 3ª e a 4ª edição. Como disse Sean Punch: me pergunte de novo em 2017. O problema é o aviso sobre a proximidade do fim dos RPGs de mesa (caneta-e-papel nas palavras exatas de mestre Sean P.). Não é a primeira vez que alguém do ramo faz uma previsão negativa, quase apocalíptica, do futuro dos RPGs de mesa. Lembremos que Mike Mearls da Wizards of the Coast também tocou no tema.
Os jogos eletrônicos tem crescido muito nos EUA, muito mais do que no Brasil. Os MMORPG se multiplicam às centenas e prosperam, enquanto o mercado de RPG se retrai. O grosso das vendas de GURPS nos EUA é em PDF, como disse o próprio Steve Jackson no começo de 2011, falando do ano de 2010. Até D&D é vendido em PDF, e há muita pirataria lá também.
O fato é que os MMORPG ainda possuem suas limitações, o que confere uma pequena vantagem aos RPGs de mesa, que pode ser logo superada dados os incríveis avanços tecnológicos na área da informática. Em termos de progresso, cinco anos para 2017 é um salto evolutivo para os games de modo que fica difícil prever o futuro do mercado.
Esse futuro vai depender das novas gerações, porque as velhas, como eu, vão continuar a comprar e suportar esse mercado. Eu pretendo morrer com GURPS na minha estante, seja lá em qual edição estiver, ainda que sem uso.
Enquanto isso, no Brasil…
É tudo um pouco mais nebuloso. Não o futuro do mercado, mas o histórico das edições.
- 1ª Edição – 1991 (= USA 3rd.ed.)
- 2ª Edição – 1994 (= BRA 1a.ed. + Apêndice)
- 3ª Edição – não houve 3ª edição brasileira
- 4ª Edição – Jul/2010 (MB: Personagens), Set/2010 (MB: Campanhas) (= USA 4th.ed.)
- 4ª Edição Revisada – Jul/2015 (MB: Personagens) (= USA 4th.ed.)
A primeira edição era essa capa branca, com um homem lilás. As sombras no rosto do homem eram feitas por uma capa de acetato (plástico duro transparente) que servia para proteger o livro. O livro tinha encadernação frágil e era fácil soltar as folhas. O corte também não era perfeito, e era possível ver a capa um pouco menor que as páginas…
A segunda edição nacional possuía a saudosa capa preta, correspondente à 3ª edição estadunidense. Capa e acabamento muito superiores à primeira edição.
As edições da Devir costumavam ter uma tradução boa, porém o descuido com a publicação e a falta de revisão produziram erros crassos. A quarta edição nacional (de 2010) é um festival de erros, e já possui duas erratas: uma oficial, enorme, e uma não-oficial (*), também grande. Além disso a versão nacional veio em Preto e Branco, contra o belo colorido da edição americana, embora isso não prejudique o livro.
Seis anos após o lançamento da edição americana da 4ª ed. é que veio a edição nacional, porém antes tarde que nunca, deixando todos os jogadores surpresos e entusiasmados, pois já acreditavam ser improvável, pra não dizer impossível uma nova edição nacional.
A 4ª ed. revisada veio no 19º EIRPG em Julho de 2015, custando R$75,00 e incorporou a errata oficial da edição de 2010. Além disso o livro veio um pouco mais claro e mudou a paginação de algumas páginas (coisas que estavam numa página na edição 2010, mudaram de página na 2015). Conforme se lê nesta análise que fiz. Para uma análise visual das mudanças, convém consultar o blog NH uns 30 do amigo PL Madeira!
(*) Link para um formulário onde você pode adicionar erros que encontrar. Clique no link da planilha para visualizar todos que a comunidade encontrou.
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BIBLIOGRAFIA
- GURPS Land, GURPS 3rd Editon covers
- RPG Geek, A short history of GURPS
- StackExchange, What are the differences between the various editions of GURPS?
- Steve Jackson Games’ forum, GURPS 3rd.ed. cover’s history
- Wayne’s Books, GURPS Core Rules
- Wikipedia, GURPS (espanhol, inglês, português)
Que eu saiba, a primeira edição nacional é a 3ed Edição americana e a segunda é a 3ed revisada. A diferença é basicamente o apêndice. (O fato de a primeira edição nacional ser posterior à 3ed americana eu diria que é um forte indicativo disso. O que me faz crer que algum ano dessa lista deve estar errado, pq diz que as duas edições nacionais sairam depois da 3ed americana e antes da 3ed revisada. Mas, eu posso estar errado e a Panini ter lançado algo defasado).
E também, ao que me conste, na 3ed surgiu a história da Caravana para Ein Arris. Na 3ed Revisada essa história foi retirada para dar espaço ao apêndice! (Pelo menos é o que consta na própria explicação da editora em inglês).
Fora isso, é um retrospecto bem bacana, gostei.
Você provavelmente está certo quanto às edições nacionais (1a = 3a e 2a = 3a.rev.). Confirmei no site da e23 que a aventura Caravana para Ein Arris surgiu na 3a e não na 3a.rev., então estou corrigindo o texto. Valeu!
Eu tive a 2ed. nacional (3ed. Revisada) e posso garantir que mesmo existindo o apêndice eles não retiraram a Caravana para Ein Arris, a aventura está nela.
Belo site, com informações úteis e bastante atrativo. Curti muito essa seção sobre GURPS, parabéns.
Muito obrigado Douglas, seja bem-vindo!
Parabéns pela postagem. Parabéns!
Obrigado, bem-vindo!
2019 e as pessoas ainda jogam RPG de mesa 🙂
Comprei o campanhas 2015 pela Amazon, só que chegou o de 2011. Vale a pena reclamar? Tem muitos erros também? Todos os site que olho só falam do livro dos personagens – tenho a versão de 2015 revisada dele – e nada do livro de campanhas.
Oi Breno! O CAMPANHAS nunca foi revisado. Então você tem a última edição. Ele tem alguns erros sim, mas não chega a atrapalhar a jogabilidade. E, como nunca foi publicada edição revisada, não há o que fazer. 😉