Orco, deus do submundo
Orco (do latim Orcus) era um deus do submundo com origem na mitologia etrusca, onde era associado com um gigante cabeludo e barbudo, sendo depois adotado pelos romanos. Como divindade, punia os mentirosos e aqueles que quebravam juramentos. Da mesma forma que Hades (ou Plutão para os romanos) era tanto o nome do deus quanto do lugar em que habitava, por também ser um deus do mundo inferior, Orco também teve seu nome associado com o próprio mundo inferior e tudo que viesse dele.
Em Roma Antiga, Orcus, Plutão (Hades) e Dis Pater tendiam a se confundir na mesma entidade: um deus do mundo inferior.
Sua origem na verdade é mais antiga, e remonta à mitologia grega, que influenciou fortemente os antigos povos do Lácio (região central da Itália, lar de etruscos e romanos).
Na antiguidade grega, havia a figura do “daemon” (do latim dæmon, derivado do grego ??????, transliteração dáimon, traduzido como “divindade” ou “espírito”), que nada tinha de demônio, embora a origem do vocábulo atual seja essa. Quando se falava em daemon, não se tratava de ser bom ou mal. Seu temperamento ligava-se ao elemento natural ou vontade divina que o originou. Conforme o elemento ao qual se ligava, podia ser bom (eudaimon) ou mal (kakodaimon). Os daemons eram intermediários entre os deuses e os homens, eram espíritos (ou divindades menores) que podiam representar, assim como os deuses:
- elementos da natureza (fogo, água, mar, ar, terra, florestas etc);
- lugares (protetores de cidades, fontes, estradas etc);
- afetações humanas de corpo e espírito (sono, amor, alegria, discórdia, medo, morte, força, velhice, virtudes e defeitos etc); e,
- gênios pessoais a influenciar a pessoa a quem protege (Sócrates dizia que falava em nome do seu bom dáimon).
Entendido isso, os gregos tinha um dáimon específico que personificava a maldição que infligiria a pessoa que mentisse ou fizesse um falso juramento. Esse dáimon era Orco (do grego ?????, transliteração Horkos, traduzido literalmente como “juramento”). Em seu poema épico “Os Trabalhos e os Dias”, Hesíodo afirma que as Fúrias (Erínias em grego, personificações da vingança) ajudaram no nascimento de Orco, nascido da deusa Éris (personificação da discórdia), a quem trouxe ao mundo para ser uma praga sobre quem fizesse um juramento falso.
Uma das fábulas de Esopo conta a história de um homem que tomou um empréstimo de um amigo sem a intenção de devolver. Quando o amigo pediu-lhe para prestar um juramento sobre o empréstimo, ele reconheceu o perigo e se preparou para deixar a cidade. Já na estrada, ele conheceu um homem coxo, que também estava indo embora. Quando questionado, o homem coxo disse que ele era Orco (juramento), e que tomava este caminho procurando por pessoas más. O homem perguntou a Orco quantas vezes ele retornava à cidade, a que respondeu, eu volto depois de trinta, às vezes quarenta anos. Acreditando-se estar livre do perigo, o homem retornou ao seu amigo na manhã seguinte e sem hesitação, jurou que nunca tinha recebido o empréstimo. No mesmo dia, Orco o encontrou e o arrastou para a beira de um precipício e, protestando, o homem perguntou como o deus poderia ter dito que ele não voltaria em menos de trinta anos, quando na verdade ele não lhe concedeu nem mesmo um único dia de indulto. No que Orco respondeu que ele também precisava saber que, se alguém o provoca, ele está acostumado a voltar novamente no mesmo dia.
Na Idade Média, Orco sobreviveu sendo cultuado nas zonas rurais, pois como deus do submundo, tinha poder sobre o que vinha da terra (lavoura e extração de minerais). No entanto, lentamente teve seu nome associado às coisas ruins (porque saídas do submundo), a exemplo das baleias orcas (a baleia assassina), a criatura fantástica comedora de carne humana assemelhada ao bicho-papão conhecida como ogro (do francês ogre, uma alteração de Orcus, mas talvez do alemão antigo ögr, significando feio ou desajeitado) e, é claro, a própria palavra “orc”, tão usada nos jogos de role-playing.